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Donde vem o “ataque de raiva”?


Quando falamos de Raiva, podemos estar a referir-nos a duas situações bem diferentes.


A primeira é uma doença grave que conduz quase sempre à morte. A Raiva, é causada por um vírus que depois de penetrar pela pele (mordedura, lambidela em feridas abertas, arranhões) ou mucosas, alcança células do sistema nervoso periférico e vai avançando até atingir o sistema nervoso central, provocando a inflamação do cérebro (encefalite). O vírus da Raiva (do género Lyssavirus, da família Rhabdoviridae) é transmitido aos seres humanos quase sempre através da saliva infectada de animais mamíferos, tais como, cão, gato, cabra, vaca, cavalo, morcego, castor, macaco, etc, regra geral quando vivem no seu habitat natural (selvagem), ou seja, não estão vacinados e podem estar contaminados.

O período de incubação da raiva no homem é muito variável, podendo ir de alguns dias até um ano, com uma média de 45 dias. Os sintomas podem confundir-se inicialmente com os de uma gripe, com febre dores de cabeça e dores musculares, evoluindo para convulsões, espasmos musculares, perde de sensibilidade, confusão, muita agitação e agressividade, alucinações, dificuldades em engolir, demasiada salivação, aversão à água e paralisia.

Em caso de mordedura, a ferida deverá ser lavada com água e sabão, e deverá ser consultado um médico para seguir o tratamento recomendado. No próprio dia da mordedura poderá ser administrada imunoglobulina humana para a raiva. Devem ser administradas várias doses de vacinas preventivas da raiva em dias determinados.

Sempre que possível, deve apanhar-se o animal que mordeu ou lambeu para observar o seu estado e evolução. O animal infectado, apresentará alguns sinais tais como, mudanças de comportamento, tornando-se “raivoso” e agressivo, dificuldades em engolir, excesso de saliva e paralisia das patas traseiras.


A segunda situação em que falamos de Raiva refere-se a um estado de grande fúria e frustração, que conduz a comportamentos agressivos. Como se pode deduzir, este estado de raiva, pode ter parecenças com os comportamentos agressivos de animais e pessoas infetados pelo vírus da raiva, que, como vimos afecta o sistema nervoso.

Muitas vezes confunde-se raiva com zanga e fazem-se traduções abusivas de zanga para raiva, da mesma forma que muitas vezes se confunde tristeza com depressão.


A zanga, tal como a tristeza, é uma emoção que visa a adaptação do indivíduo ao meio, ou seja, é fundamental para a sobrevivência. A sua vivência é essencial à nossa saúde e bem-estar. É a zanga que nos permite defender e proteger-nos, aos mais variados níveis (individual, familiar, comunitário, territorial, direitos cívicos, etc.). A zanga permite-nos um estado de alerta e de preparação para a acção no sentido da sinalização de limites que estão a ser ultrapassados por alguém e que afectam a nossa sobrevivência, segurança, liberdade, direitos, …


Com a raiva estamos num outro patamar. A raiva surge muitas vezes de forma repentina e automática, frequentemente porque, durante muito tempo e nas mais variadas situações, não nos zangámos quando essa seria a atitude mais adaptativa, ou seja, tornamo-nos agressivos, quando não aceitamos as zangas que temos. Quando não nos autorizamos a zangar, achando que não temos esse direito, julgando que discordar, emitir uma opinião diferente, defender um direito, ou dizer “não” é ser-se desobediente ou agressivo, acontece então que se vai contendo a zanga, não expressando o que deveria ser comunicado, podendo esta atitude acarretar problemas de saúde vários. Quando não lhe prestamos a atenção psicológica devida, a zanga arranja maneira de se exprimir em ansiedade, depressão e, por vezes, em sintomas físicos. Acontece também, que a sua acumulação pode resultar numa explosão ou “ataque de raiva”, quando menos se espera. A raiva, neste sentido, é o acumular de zangas reprimidas, que se manifestam depois de um modo exagerado e intempestivo.


É claro, que se olha para si como uma pessoa sempre zangada, ou se repara noutras pessoas que estão sempre zangadas, alternando entre a zanga e a raiva, isso pode querer dizer que a zanga está a ocupar o espaço de outras emoções, ou seja que a pessoa traduz quase tudo o que sente, em zanga e em raiva. Esta não é então uma zanga adaptativa, mas sim a única emoção que está disponível para lidar com tudo, ou seja, é uma forma de fugir de outras emoções, é um refúgio. Funcionar deste modo, para evitar, por exemplo, tristezas, vulnerabilidades ou alegrias (sim, há quem evite a alegria, por achar que não pode ou não deve estar contente e por receio do que pode vir depois da alegria…), só nos afasta cada vez mais de nós próprios, e dos outros, sobretudo quando tanta zanga mal gerida e pouco consequente, evolui para amargura, azedume e raiva.


A raiva, enquanto emoção desregulada e extrema, para além de nos deixar emocionalmente desequilibrados, tem repercussões ao nível mental e cognitivo, uma vez que bloqueia a capacidade de raciocínio e de acesso à informação, alocando todos os recursos para si própria (daí a expressão “ficou cego de raiva” ou “estava fora de si”). Ao nível físico, pode provocar arritmias cardíacas, aumento da tensão arterial, alterações sensoriais.


Concluindo, aceite todas as suas emoções e saiba zangar-se quando for caso disso. Deste modo, pode aliviar tensões, evitar ansiedade, depressão, úlceras, queda de cabelo, urticária, dores várias e algumas outras possíveis manifestações físicas, que podem ter (ou não) causa psicológica. Pode ainda evitar “ataques de raiva”, que afetam o seu coração, o seu cérebro e ao seu bem-estar psicológico.

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